segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Rock Nacional se tornou uma estufa de “coxinhas”?

Estilo musical mais contestador de todos atualmente abriga fãs e artistas que são cada vez mais conservadores 




Por Paulo Henrique Faria

O Rock desde a sua gênese até a sua popularização sempre foi um estilo de música iconoclasta e contracultural. Quebrava padrões estabelecidos pela sociedade conservadora dos mais variados países no mundo. No Brasil, os protestos em forma de letras de música foram maximizados na década de 1980. Bandas formadas por jovens que vivenciaram os “anos de chumbo” proporcionados pela Ditadura Militar denunciavam, com toda a revolta possível, a repressão midiática e política que sofreram. Posso citar centenas, mas deste período destaco a carioca Barão Vermelho, as paulistas Titãs, RPM e Ira!; as brasilienses Legião Urbana e Capital Inicial e, a gaúcha Engenheiros do Hawaii. Na década anterior, também faço menção honrosa ao baiano Raul Seixas.    

            Nos anos 90 a qualidade e quantidade de grupos contestadores caiu um pouco. Mas, mesmo assim ainda se ouvia refrãos fortes do Sepultura, Charlie Brown Jr., Raimundos e O Rappa. Até o maior fenômeno comercial da época, o bem-humorado Mamonas Assassinas soltava hits como “O RoboCop Gay” que rechaçava a homofobia impregnada no nosso país. Este autor que vos escreve, nascera no ano de 1988 e como tal, formei meu gosto musical roqueiro ouvindo todos esses nomes. Depois com oito anos descobri o Queen e o Pink Floyd e, embarquei no Rock Internacional. Mas essa é uma outra história.   

O fato é que na última década a rebeldia e atitude dos roqueiros definhou. Dos rock stars brazucas recentes só vejo Tico Santa Cruz (Detonautas) e Pitty se posicionarem de forma assertiva politicamente. Ambos são contra o impeachment de Dilma Rousseff – por ser tratar de um claro golpe do PMDB e a Direita – e ainda levantam a importante bandeira do feminismo. Muitos os apoiam, entretanto, o que tem de gente que os difama e fala bobagem, não está escrito. São jovens de classe média alta e baixa que pouco estudaram História e, já se julgam os PHDs em Ciências Políticas e Sociais. Ignorância total! E o festival de hipocrisias proferidas é cada vez mais crescente. Vários destes indivíduos se dizem fãs de bandas declaradamente de esquerda como System Of A Down e Rage Against The Machine. Será que eles sabem disso afinal??? Adoram chamar – de maneira pejorativa – quem pensa diferente de: “esquerdopata”, “petralha” ou “mortadela”. Tudo isso é reflexo da admiração doentia que estes mesmos têm por figuras da ultradireita brasileira, como o deputado fascista Jair Bolsonaro ou o vlogueiro bobalhão Nando Moura – quem??? – que adoram propagar ideologias tolas e preconceituosas. Ao refletir sobre, logo me vem à cabeça o trecho da música “Toda Forma de Poder” do Engenheiros do Hawaii que diz o seguinte: “E o fascismo é fascinante deixa a gente ignorante e fascinada. É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa toda tá errada. A história se repete mas a força deixa a história mal contada...”. Muito bem colocado Humberto Gessinger!  

            Desta velha guarda roqueira oitentista, existem ainda os que são totalmente opostos. Há os que mudaram radicalmente de pensamento e, os que mantêm suas idiossincrasias intactas como Edgard Scandurra, guitarrista do Ira! e o cantor Leoni (Ex-Kid Abelha). Ambos escrevem “textões” nas redes sociais e gravam vídeos contra os principais corruptos do país, como Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer e Aécio Neves. São, portanto, coerentes com seus respectivos passados libertários. O mesmo não se pode dizer sobre, os agora “reaças”, Roger Moreira (Ultraje a Rigor) e Lobão. Quem diria que há 30 anos os caras apoiavam as “Diretas Já!” e abominavam a Ditadura, mas agora tecem comentários totalmente desagradáveis sobre tudo e todos. Caíram em claro descrédito. Eu mesmo até curtia o trabalho dos dois. Mas agora não consigo nem vê-los tocando mais . São muito imbecis!


            Esta reflexão exposta, quero deixar claro, é uma epifania que tive sobre o momento político e social delicado que nós, brasileiros enfrentamos atualmente. Sou declaradamente de esquerda. Não cabe aqui explicar minuciosamente a razão disso. Mas em síntese, sou assim porque acredito que tanto na nossa sociedade como no Rock, não existe lugar para quem discrimina o pobre, o negro, o homossexual, a mulher e o diferente. Se você é de direita, ok. Você tem todo o direito de exercer a ideologia que julgar melhor. Só não me venha encher o saco falando que o “Rock é Conservador”. Você pode ser de esquerda, direita, centro, apolítico, anarquista, católico, evangélico, umbandista, agnóstico, ateu e até satanista. Só não seja um babaca! Respeite a opinião alheia. Construa argumentos válidos baseados em estudos sérios e pesquisas com embasamento teórico. Mesmo com toda essa crise de identidade do meu estilo musical preferido, eu sou otimista – pra não dizer utópico – pois acredito que o Rock Nacional voltará a ser grande. Não me refiro à volta ao Mainstream, mas sim, ao retorno da propagação da visão de mundo igualitária e progressista. A "coxinha" está vencida. Chegou a hora de retirá-la da estufa e jogá-la no lixo! 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Fraternidade Cinematográfica


Parceria entre irmãos no cinema rende grandes sucessos em Hollywood  



Por Paulo Henrique Faria



            Quando os irmãos Auguste e Louis Lumière inventaram na França o que vinha a ser conhecido como cinema em 1895, logo já sabíamos que a sétima arte era um terreno de consanguíneos. Esta constatação cresce com os recentes lançamentos na telona. Os irmãos Coen soltaram no mês passado a nova comédia “Ave, César! ”, enquanto os irmãos Russo lançaram o arrasa quarteirão “Capitão América: Civil War”. Ambos são sucessos de crítica e bilheteria. 

            Essa parceria de sucesso entre Joel e Ethan Coen perdura há mais de 30 anos. Dessa junção surgiu grandes obras como “Fargo”, “Onde os Fracos Não Têm Vez”, “Bravura Indômita” e, ainda o roteiro do último filme do todo poderoso Steven Spielberg, o ótimo “Ponte dos Espiões”. A união lhes rendeu muitos prêmios cinematográficos. Dentre eles, o Oscar de Melhor Roteiro Original em “Fargo” no ano de 1997; além de outras três estatuetas da Academia em 2008 por “Onde os Fracos Não Têm Vez” (Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Roteiro Adaptado). Recentemente fizeram a inteligente comédia “Ave, César! ”, que mostra, com boas sátiras, os bastidores das grandes produções épicas em Hollywood nos de 1950. Criticam a ganância capitalista dos produtores e a contradição comunista dos roteiristas. Estes caras são demais!  



            A próxima dupla é a que está dando o que falar na atualidade; falo de Anthony e Joe Russo. Os caras foram buscados de curtas-metragens lado B nos Estados Unidos para o estrelato em Hollywood. A estreia deles em uma grande produção foi logo no segundo filme da franquia “Capitão América”, o elogiado “O Soldado Invernal”. O filme rendeu US$ 714 milhões em 2014. Além dos excelentes números em bilheteria, a película do herói-mor da Marvel foi muito bem recebida pela grande crítica. Essa prática foi amplificada com o filme seguinte “Capitão América: Civil War”, que é considerado por muitos como o melhor já feito pela Marvel Studios. Sem contar que em menos de um mês de exibição pelos cinemas mundiais já ultrapassou a incrível marca de US$ 1 bilhão! Aguardem para os dois próximos filmes dos dois, “Vingadores: Guerra Infinita Parte 1” e “Vingadores: Guerra Infinita Parte 2”. Eles certamente chegaram para ficar!    



            Outro bom exemplo desta junção de parentes é a das diretoras Lilly e Lana Wachowski. Elas foram responsáveis pela direção e roteiro da trilogia de grande sucesso recente, o marcante “Matrix”. Na época eram conhecidos como Andrew Paul "Andy" Wachowski e Laurence "Larry" Wachowski respectivamente. O filme foi um sucesso estrondoso de arrecadação e, ainda abocanhou quatro Oscars técnicos (Melhores Efeitos Visuais, Melhor Edição, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som). Foram responsáveis ainda pelo roteiro da cultuada adaptação dos quadrinhos “V de Vingança”, além dos destacáveis “Speed Racer” e “A Viagem”. Elas são talentosas e ativistas das mulheres transgênero. Parabenizo-as primeiro pela competência e, depois pela coragem de levantar a bandeira da igualdade e aceitação em nossa sociedade – ainda em sua maioria – machista e homofóbica.  



            Pra fechar o encontro dos irmãos nos filmes, destaco o trabalho de Christopher e Jonathan Nolan. Eles são os criadores de nada mais nada menos que os blockbusters: “O Grande Truque”, “Batman Begins”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, “A Origem” e “Interestelar”. Obras que recriaram uma nova forma de se enxergar adaptações de HQs, best sellers e ficção científica. Assim como os irmãos anteriores, conquistaram uma legião de fãs com suas produções. Falar em sucesso de renda e crítica é redundância para estes ingleses. Eles se tornaram os “queridinhos” da “Warner Bros” e somam incríveis sete Oscars advindos de “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “A Origem” e “Interestelar” respectivamente. Estou ansioso para a próxima dobradinha deles.     



            E aí, qual dupla de irmãos você mais curte no cinema? Eu fico entre os irmãos Coen e os Nolan. Eles são técnicos, minuciosos e claro, totalmente criativos. O cinema atual ainda possui qualidade graças, em boa parte, a estes quatro. Um salve para os manos das telonas!