Estilo musical mais contestador de todos atualmente abriga fãs e artistas que são cada vez mais conservadores
Por
Paulo Henrique Faria
O Rock desde a sua gênese
até a sua popularização sempre foi um estilo de música iconoclasta e contracultural.
Quebrava padrões estabelecidos pela sociedade conservadora dos mais variados
países no mundo. No Brasil, os protestos em forma de letras de música foram
maximizados na década de 1980. Bandas formadas por jovens que vivenciaram os “anos
de chumbo” proporcionados pela Ditadura Militar denunciavam, com toda a revolta
possível, a repressão midiática e política que sofreram. Posso citar centenas,
mas deste período destaco a carioca Barão Vermelho, as paulistas Titãs, RPM e
Ira!; as brasilienses Legião Urbana e Capital Inicial e, a gaúcha Engenheiros
do Hawaii. Na década anterior, também faço menção honrosa ao baiano Raul
Seixas.
Nos
anos 90 a qualidade e quantidade de grupos contestadores caiu um pouco. Mas,
mesmo assim ainda se ouvia refrãos fortes do Sepultura, Charlie Brown Jr., Raimundos
e O Rappa. Até o maior fenômeno comercial da época, o bem-humorado Mamonas
Assassinas soltava hits como “O RoboCop Gay” que rechaçava a homofobia impregnada
no nosso país. Este autor que vos escreve, nascera no ano de 1988 e como tal,
formei meu gosto musical roqueiro ouvindo todos esses nomes. Depois com oito
anos descobri o Queen e o Pink Floyd e, embarquei no Rock Internacional. Mas
essa é uma outra história.
O fato é que na última década
a rebeldia e atitude dos roqueiros definhou. Dos rock stars brazucas recentes
só vejo Tico Santa Cruz (Detonautas) e Pitty se posicionarem de forma assertiva
politicamente. Ambos são contra o impeachment de Dilma Rousseff – por ser
tratar de um claro golpe do PMDB e a Direita – e ainda levantam a importante
bandeira do feminismo. Muitos os apoiam, entretanto, o que tem de gente que os
difama e fala bobagem, não está escrito. São jovens de classe média alta e
baixa que pouco estudaram História e, já se julgam os PHDs em Ciências Políticas
e Sociais. Ignorância total! E o festival de hipocrisias proferidas é
cada vez mais crescente. Vários destes indivíduos se dizem fãs de bandas
declaradamente de esquerda como System Of A Down e Rage Against The Machine.
Será que eles sabem disso afinal??? Adoram chamar – de maneira pejorativa –
quem pensa diferente de: “esquerdopata”, “petralha” ou “mortadela”. Tudo isso é
reflexo da admiração doentia que estes mesmos têm por figuras da ultradireita brasileira,
como o deputado fascista Jair Bolsonaro ou o vlogueiro bobalhão Nando Moura –
quem??? – que adoram propagar ideologias tolas e preconceituosas. Ao refletir
sobre, logo me vem à cabeça o trecho da música “Toda Forma de Poder” do
Engenheiros do Hawaii que diz o seguinte: “E o fascismo é fascinante deixa a
gente ignorante e fascinada. É tão fácil ir adiante e se esquecer que a coisa
toda tá errada. A história se repete mas a força deixa a história mal
contada...”. Muito bem colocado Humberto Gessinger!
Desta
velha guarda roqueira oitentista, existem ainda os que são totalmente opostos. Há
os que mudaram radicalmente de pensamento e, os que mantêm suas idiossincrasias
intactas como Edgard Scandurra, guitarrista do Ira! e o cantor Leoni (Ex-Kid
Abelha). Ambos escrevem “textões” nas redes sociais e gravam vídeos contra os
principais corruptos do país, como Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Michel Temer
e Aécio Neves. São, portanto, coerentes com seus respectivos passados
libertários. O mesmo não se pode dizer sobre, os agora “reaças”, Roger Moreira
(Ultraje a Rigor) e Lobão. Quem diria que há 30 anos os caras apoiavam as “Diretas
Já!” e abominavam a Ditadura, mas agora tecem comentários totalmente
desagradáveis sobre tudo e todos. Caíram em claro descrédito. Eu mesmo até
curtia o trabalho dos dois. Mas agora não consigo nem vê-los tocando mais . São muito
imbecis!
Esta
reflexão exposta, quero deixar claro, é uma epifania que tive sobre o momento
político e social delicado que nós, brasileiros enfrentamos atualmente. Sou
declaradamente de esquerda. Não cabe aqui explicar minuciosamente a razão
disso. Mas em síntese, sou assim porque acredito que tanto na nossa sociedade
como no Rock, não existe lugar para quem discrimina o pobre, o negro, o homossexual,
a mulher e o diferente. Se você é de direita, ok. Você tem todo o direito de
exercer a ideologia que julgar melhor. Só não me venha encher o saco falando
que o “Rock é Conservador”. Você pode ser de esquerda, direita, centro,
apolítico, anarquista, católico, evangélico, umbandista, agnóstico, ateu e até
satanista. Só não seja um babaca! Respeite a opinião alheia. Construa
argumentos válidos baseados em estudos sérios e pesquisas com embasamento
teórico. Mesmo com toda essa crise de identidade do meu estilo musical
preferido, eu sou otimista – pra não dizer utópico – pois acredito que o Rock
Nacional voltará a ser grande. Não me refiro à volta ao Mainstream, mas sim, ao
retorno da propagação da visão de mundo igualitária e progressista. A "coxinha" está vencida. Chegou a hora de retirá-la da estufa e jogá-la no lixo!