segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Fim do segundo turno dá início à disputa de 2018

Depois das eleições municipais deste ano, agora as atenções estão voltadas para o destino político e partidário do Brasil 


  

Por Paulo Henrique Faria



              Passado o segundo turno das eleições municipais, o que se viu foi uma confirmação daquilo que já presenciamos na primeira parte da votação. PSDB, PMDB e parte expressiva do conservadorismo cresceu, enquanto PT e, a parte mais à esquerda saiu – em sua maioria – derrotada. No Rio de Janeiro a igreja evangélica chegou ao poder, mas obteve 26,75% de abstenção e 20,08% de brancos e nulos. Agora, as atenções já se voltam para a corrida ao Palácio do Planalto. 2018 é logo ali, e me parece que o grande embate deva ser entre Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT).   

            Das 57 cidades que houveram segundo turno neste pleito, destaco as grandes capitais. Rio de Janeiro por exemplo, elegeu o representante direto da Igreja Universal, o senador Marcelo Crivella (PRB). O bispo superou Marcelo Freixo (PSOL), pela contagem de 59,37% ante 40,6% dos votos válidos. Crivella pelo jeito conseguiu abrigar boa parte do eleitorado carioca cristão e conservador. Todavia, outro dado chamou a atenção na Capital Fluminense: o alto índice de abstenção, votos nulos e brancos. O movimento do “não voto” chegou aos incríveis 2.034.352. Esse número é maior que a quantidade recebida por Crivella, que foi de 1.700.030. Se formos levar em consideração só a quantidade de eleitores que se quer compareceram às urnas, o número chegou a 1.314.950. Isso é mais do que Freixo alcançou neste segundo turno, 1.163.662 de votos. Essa onda rejeitadora pode, em geral, mostrar uma descrença do eleitorado na atualidade. Ou até a negação aos candidatos que concorreram. Certo é que se o PSOL fizer a leitura correta – ou seja, usar mais pragmatismo político e estratégia eleitoral – faz de Marcelo Freixo senador pelo Estado do Rio de Janeiro em 2018. Lá Crivella irá deixar seu suplente – que não tem força – e, assim serão disponibilizadas duas vagas para o Senado Federal. As chances do psolista são boas, portanto.    

            Outra Capital que merece destaque é Fortaleza. O quinto maior colégio eleitoral do país reelegeu Roberto Cláudio (PDT) para mais quatro anos de mandato. O médico sanitarista venceu o deputado estadual e capitão reformado da PM, Capitão Wagner (PR). Aliás, o que mais chamou atenção foi o embate entre seus respectivos padrinhos políticos. Roberto Cláudio é aliado dos irmãos Gomes, que são inimigos dos senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (PMDB), que apoiaram Wagner. Desta maneira, Cid Gomes (ex-governador do Ceará) surge como nome forte para o senado, além é claro do primogênito Ciro Gomes, que ganha ainda mais força para a disputa presidencial daqui dois anos. O PDT, partido de ambos, cresceu no número de prefeitos Brasil afora. Agora detém 335, dos quais três são de Capitais. O partido de Brizola se reafirma como um possível sucessor do PT, pela liderança do campo progressista brasileiro. A vitória em Fortaleza foi tão expressiva para o grupo político pedetista, que Ciro logo após votar em sua seção na manhã deste domingo, chegou a confidenciar que “uma inimaginável derrota aqui tiraria muito do estímulo para seguir na luta, pois, se o melhor prefeito da história da cidade perde para um samango desqualificado, a gente perde a esperança ", afirmou. Resta agora saber, se Lula de fato não poderá se candidatar à presidente novamente e, assim, o Partido dos Trabalhadores oficializará apoio ao ex-ministro cearense.   

            Do outro lado do jogo, o PSDB apresentou um grande vencedor e outro perdedor. Geraldo Alckmin bancou João Dória para a prefeitura de São Paulo e, o empresário levou ainda no primeiro turno. Agora no segundo turno, ele conquistou com seus aliados tucanos e pesebistas a maioria de outras cidades pelo Estado paulista. Eles desbancaram o PT até no reduto histórico lulista, situado no ABC. O mesmo sucesso não se pode enxergar em Aécio Neves. O senador mineiro viu seu afilhado político João Leite perder a eleição em Belo Horizonte para o ex-presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil (PHS). Por isso, Alckmin dá vários passos à frente de Aécio como presidenciável mais forte do PSDB.  Sobre os resultados destas eleições, Alckmin desconversou sobre o futuro. "2018 é outro momento. Agora, encerrada a eleição municipal, que é uma eleição muito importante. Dizem que o século 19 foi o século dos impérios; o século 20, o século dos países; e o século 21 é o século da cidade. Ela é a grande protagonista. Então, são governos importantíssimos. Depois, o futuro a Deus pertence", tergiversa. Resta esperar se as delações premiadas da Odebrecht vão deixar essa vitória transparecer nos próximos 24 meses.  

            Já Marina Silva, viu seu partido Rede Sustentabilidade eleger apenas um prefeito de Capital, Clécio Luís em Macapá. A Rede conseguiu ao todo somente sete prefeituras em todo o país. Quantidade bem abaixo do esperado por outros dirigentes da sigla e, até para analistas políticos. Marina, que já caiu alguns pontos nas últimas pesquisas, pode assim perder ainda mais força para a terceira tentativa seguida de chegar ao Governo Federal. 

terça-feira, 25 de outubro de 2016

O temor de Temer e sua trupe

Atual presidente corre para aprovar medidas neoliberais, antes que as delações de Cunha e Odebrecht arrase seu governo e a sua base aliada 


  
Por Paulo Henrique Faria 


E o turbilhão de crise política não para de aumentar. Contrastando com a felicidade da iminente aprovação da impopular PEC 241 no Congresso Nacional, o atual governo está apreensivo pelas revelações bombásticas que surgirão das próximas delações premiadas. Dessa vez, quem deve falar será o empresário Marcelo Odebrecht – junto de outros 50 funcionários de sua empreiteira – além é claro, do corrupto mor da nação, o ex-deputado federal Eduardo Cunha. O pânico é quase que geral. A promessa é que nomes graúdos do PMDB, PSDB, DEM, PSD, PTB, PP e PT serão entregues como partícipes de grandes esquemas de pagamento e recebimento de propinas.    

Ainda hoje, terça-feira (25/10), a degenerada PEC 241 deve ser aprovada por maioria na Câmara dos Deputados; válida pelo segundo turno da votação. Se aceita em outros dois turnos no Senado – o que é quase certo de ocorrer – a partir de 2017 os investimentos em educação e saúde serão praticamente congelados. Se estes dois itens vão de mal a pior atualmente, imagina com regulamentação dessa medida?! Está mais do que claro que o governo de Temer não dá a mínima para o povo. Além de cortar gastos de onde não deveria, o presidente ilegítimo quer emplacar a qualquer custo a reforma da previdência. Diminuindo aposentadorias de juízes, militares e políticos? Nada disso! Ele quer fazer com que o cidadão de menor poder aquisitivo trabalhe ainda mais tempo. Logo o Michel Temer, que se aposentou com apenas 55 anos.   

Por que ao invés de retirar dos mais pobres, não reduz, de verdade, as exorbitantes taxas de juros dos bancos? Por que não diminui de fato a taxa Selic? Sim, pois reduzir 0,5%, como fizeram na semana passada, foi quase um insulto. É evidente que o Brasil passa por um momento de austeridade econômica, agora, os caminhos neoliberais – bem próximos do que FHC praticara nos anos 90 – não são nem de longe o melhor caminho a se seguir. A tendência é que o desemprego e, o consequente endividamento dos consumidores, aumente como jamais se viu por aqui. É necessário que a classe política e judiciária “corte da própria carne”. Eles ganham altíssimos salários e possuem uma série de privilégios. Não é justo que os trabalhadores, aposentados e crianças tenham ainda mais dificuldades na vida. É necessário realizar auditoria da dívida pública, investimentos na tecnologia nacional e, uma criação de imposto especial que taxe heranças de grandes fortunas. A desigualdade social e o desperdício de inteligência acadêmica e/ou profissional estão levando o país à ruina fiscal.    


Lava Jato e suas futuras delações bombásticas   


Na semana passada finalmente o juiz Sérgio Moro mandou prender Eduardo Cunha. Depois de mais de um mês da perda do mandato e seu precioso foro privilegiado. Cunha está nitidamente chateado com os posicionamentos de Temer e seus ex-colegas de PMDB. Ele esperava ser amparado pelos peemedebistas, por ser o pivô do vergonhoso impeachment, da agora ex-presidenta Dilma Rousseff. Ledo engano. Com receio da opinião pública, Temer e seus ministros ignoraram o pedido de socorro do antigo aliado. Ao saber dessa “traição”, Cunha já reuniu alguns advogados e já mandou avisar que pensa seriamente em negociar uma delação premiada. Se o carioca contar tudo o que sabe, metade de Brasília vem abaixo! Ele certamente é um dos principais idealizadores do escândalo do “Petrolão”, que envolve importantes figuras do PP, PMDB, DEM, PSDB e até PT. Recebeu de presente a vice-presidência da Caixa Econômica Federal de Dilma. E anos atrás, a presidência de Furnas, entregue por Lula. Ali roubou centenas de milhares de reais. Embolsava uma parte considerável e usava o restante para comprar apoio de parlamentares e empresários. Com ele, a manipulação e a corrupção chegaram a níveis impensáveis até então.     

Outro futuro delator que promete lançar uma “bomba atômica eleitoral” no jogo político, é o empreiteiro Marcelo Odebrecht. Depois de oito meses de tratativas, finalmente foi acordado delações – por etapas – dele e de outros 50 colaboradores. Na fase preliminar de negociações, Marcelo e outros executivos citaram 130 deputados, senadores, ministros, além de 20 governadores e ex-governadores. O presidente Michel Temer – que deveria ter sido impichado também – bem como seus ministros Eliseu Padilha, José Serra e o secretário de governo Geddel Vieira Lima, estão no meio do rolo. Isso explica o bico dos tucanos Aécio Neves, Aloysio Nunes e Geraldo Alckmin estar rigorosamente calado. O medo de todas as próximas delações é alto. Destes 20 governadores envolvidos, arrisco dizer que boa parte seja do PSDB e PMDB. E o que dizer do pavor, do intocável presidente do Senado, Renan Calheiros? Ele promete travar uma verdadeira guerra contra o sistema judiciário, tudo para tentar encerrar a Operação Lava Jato.
Entretanto, não é só a direita que está chafurdada na corrupção. Os petistas Antonio Palocci e Guido Mantega também têm explicações a dar. Bem como o maior líder do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tudo bem que o “Partido da Imprensa Golpista” o persegue. Mas ele tem culpa no cartório sim. Emílio Odebrecht – pai de Marcelo – revelou que o estádio Arena Corinthians foi uma espécie de presente para o corintiano Lula. Tudo isso em retribuição pelos oito anos de parceria entre o Governo Federal e a empreiteira, que rendeu um faturamento de R$ 132 bilhões para os cofres da empresa. O estádio – de gosto duvidoso – foi superfaturado e, a conta caiu no colo do Sport Club Corinthians Paulista, que obviamente não tem dinheiro para pagar a aquisição. Que presente de grego hein!   

Como já havia dito em textos anteriores, acredito que Lula não será preso. Mas é evidente que será condenado por Moro e, depois endossado pela segunda instância em Porto Alegre. Resultado disso tudo: ele será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e, assim, ficará inelegível por oito anos. Portanto, será decretado o fim da sua extensa carreira política. Se a justiça não for seletiva – como ultimamente se mostra ser – a previsão é que políticos das mais variadas siglas partidárias sofra punições. Seja mandatos cassados, inelegibilidade eleitoral, devolução de dinheiro desviado e, até mesmo cadeia. Se continuar nessa toada, em 2018 só sobrará Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) para concorrer à presidência. Aguardemos.





segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Eleições em 2016 apontam vencedores e derrotados para 2018

PT seguiu tendência de redução e viu seus rivais PSDB e PMDB crescerem. Uma nova frente de esquerda encabeçada por PDT, PC do B e PSOL surge como salvação do campo progressista   





Por Paulo Henrique Faria

 
Neste último domingo (02/10) foram escolhidos os próximos vereadores e prefeitos dos 5.570 municípios brasileiros. PMDB manteve seu quadro de prefeitos. PSDB aumentou e, o PT diminuiu consideravelmente. Ainda haverá segundo turno em 55 cidades, das quais 18 são Capitais. PDT concorre em São Luiz e Fortaleza; PSOL no Rio de Janeiro e em Belém; enquanto PC do B tenta a vitória em Aracajú.

As eleições de 2016 já possuem algumas marcas expressivas. Mostra um crescimento do PMDB, PSDB e PSD. Os três partidos da centro-direita brasileira aumentaram para 1.028, 792 e 538, respectivamente, o número de prefeituras Brasil afora. Em contrapartida apontou uma queda vertiginosa do Partido dos Trabalhadores. O PT em 2012 havia elegido 630 prefeitos e, agora caiu para 256. A derrota mais emblemática foi do bom prefeito Fernando Haddad. Ele perdeu para o empresário e apresentador de TV, João Doria (PSDB). Essa conjuntura política desfavorável é facilmente explicada pelo desenrolar da Operação Lava Jato, que, até o momento só atingiu em cheio o PT.  

Entretanto, surgiu uma luz no fim do túnel para a esquerda. Isso porque o PDT aumentou para 334 o número de prefeitos. Reelegeu em Natal (RN) Carlos Eduardo, em primeiro turno. E ainda possui favoritismo para reeleger Roberto Claudio em Fortaleza (CE) e Edivaldo Holanda Jr. em São Luiz (MA). Falando em Maranhão, o PC do B, do governador do Estado Flávio Dino, conseguiu eleger 46 prefeitos pelo partido neste pleito. Antes possuíam apenas 14. O PSOL também ganhou destaque no campo mais progressista do jogo. Possui a segunda maior bancada de vereadores no Rio de Janeiro. Emplacou Marcelo Freixo para disputar o segundo turno com Marcelo Crivella (PRB). E conseguiu em Belém (PA) – voto a voto – mandar Edimilson para o segundo turno contra o tucano Zenaldo Coutinho. O desempenho psolista foi certamente melhor que o petista, em quase todas as disputas. O PT só (re)elegeu em Capitais, o atual prefeito Marcus Alexandre, em Rio Branco no Acre.  


2018 é logo ali  


Dois presidenciáveis apareceram como vencedores nestas eleições. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckimin (PSDB). O tucano elegeu vários prefeitos de sua base eleitoral no interior paulista e, de quebra apostou e ganhou com João Doria na Capital Paulista. Muitos o credenciam como candidato certo para 2018. Porém, acho difícil o senador Aécio Neves abrir mão de se lançar novamente. É provável então que Alckmin siga para o aliado PSB. Já Ciro Gomes mostrou toda a sua força política no seu Estado Ceará. Depois que ele e seu irmão, o ex-governador Cid Gomes, se filiaram ao PDT – há pouco mais de um ano – vários prefeitos cearenses migraram também para o partido de Brizola. Este ano, 51 pedetistas venceram no Ceará, dentre eles, o irmão mais novo de Ciro, o deputado estadual Ivo Gomes. O caçula da família Ferreira Gomes ganhou na cidade natal do clã, Sobral. O governador Camilo Santana (PT) já antecipou inclusive seu total e irrestrito apoio ao líder pedetista para daqui dois anos.  

Na outra ponta da disputa é possível observar dois derrotados para 2018. Trata-se da ex-ministra Marina Silva e o deputado federal Jair Bolsonaro. Marina não emplacou nenhum prefeito em cidades grandes pelo seu recém-lançado partido, a REDE. Já Jair Bolsonaro não conseguiu nem levar seu filho primogênito, Flávio Bolsonaro, para o segundo turno no Rio. E o partido de ambos, o neopentecostal PSC não possui força política além das igrejas evangélicas do país.    

O mais indicável é que a esquerda se una para o próximo pleito. O PT, se ainda quiser algum protagonismo nacional, precisa fazer mea culpa e sair da cabeça de chapa. Preservar bons quadros como Eduardo Suplicy e Fernando Haddad é indispensável. Aliás, qualquer um dos dois pode ser o vice ideal de Ciro Gomes. Formalizando assim uma possível coligação entre PDT/ PT / PC do B e demais partidos aliados. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ser condenado na Lava Jato e, assim, se tornará ficha suja. A esquerda tem dois caminhos a seguir. Se une para fortalecimento do projeto mais organizado. Ou insiste em fragmentação, que garantirá à direita chegar ao poder, do qual não sairá tão cedo pelo que se desenha.