segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guns n’ Roses e a catarse de Brasília

Show com quase três horas de duração fecha em grande estilo a turnê do lendário grupo americano pelo Brasil 


    


 Por Paulo Henrique Faria


O Guns n’ Roses fechou com chave de ouro, ontem, a passagem pelo Brasil, com um grandioso show em Brasília. A turnê denominada “Not In This Lifetime” marca o retorno de Slash e Duff à banda. Com um setlist extenso – para alegria de fãs como eu – os americanos tocaram por quase três horas, para 30 mil espectadores presentes no Estádio Mané Garrincha.   

Mesmo com as rápidas chuvas e, com uma longa espera de mais de quatro horas, valeu muito a pena ter presenciado essa catarse de uma apresentação do Guns, neste último domingo. O concerto estava previsto para começar às 20 horas, mas teve início, apenas, uma hora depois com a agitada “It’s So Easy”. Mas o que é um mero atraso para quem esperou 20 anos para ver Axl Rose, Slash e Duff McKagan tocarem juntos novamente. O trio é a espinha dorsal que elevou o grupo ao Hall de maiores da história do Rock.    

Foram executadas incríveis 27 músicas na noite de ontem. Destas, destaco os covers “The Seeker” do The Who, “Wish You Were Here” do Pink Floyd (instrumental) e claro, as consagradas e indispensáveis releituras de Paul McCartney e Bob Dylan, “Live and Let Die” e “Knockin’ on the Heaven’s Door”. Como foi bom cantar em uníssono – com a multidão ao meu redor – as clássicas “Patience”, “November Rain” (com garoa e tudo), “Sweet Child o’ Mine”, “Civil War”, “You Could Be Mine”, “Welcome to the Jungle” e “Paradise City”. Teve ainda as canções “lado b” que todo mundo gosta, como “Estranged”, Outta Get Me”, “Used to Love Her”, “Yesterdays” e “Coma”. Rolou também quatro do “Chinese Democracy”. Muito interessante ver Slash solando e rearranjando músicas das quais não participou do processo de composição como: “Sorry”, “This I Love”, “Chinese Democracy” e “Better”. Nas 2 horas e 50 minutos de duração do espetáculo, revivi os bons momentos da adolescência. Conheço e curto Guns desde os meus 12 anos de idade. Se me pedissem para resumir em uma só frase o sentimento experienciado ontem, eu diria: “ O melhor show da minha vida! ”.    
  
Os pontos positivos extras ficaram por conta do ótimo trabalho dos músicos adicionais, Richard Fortus (guitarra), Dizzy Reed (tecladista dos caras desde 1990), Frank Ferrer (baterista) e a novata Melissa Reese (tecladista adicional e backing vocal). Além disso, a estrutura técnica e física do palco está impecável. Os telões de led com animações e sacadas interativas estão excelentes. O som da banda continua coeso e pesado. Os pontos negativos eu credito à organização. Deveriam ter colocado uma banda de abertura mais representativa e, com estilo mais próximo do Hard Rock e Heavy Metal. Nada contra o “Plebe Rude”, mas, acredito que nomes de maior expressão nacional se encaixariam melhor nesta função. Será que isso não foi mais um caso do famoso “jabá” na jogada??? Fica no ar a questão.   

Entretanto, a maior ressalva foi sem dúvida nenhuma nos altos valores dos ingressos. Pagar meia e, mesmo assim desembolsar R$ 300 para ir nas cadeiras, R$ 350 para ir de pista normal e R$ 540 pista premium, foi complicado. Tudo bem que o cachê dos caras deve ser alto, porém, os preços salgados afastaram uma parte relevante do público. Se fossem na faixa dos demais shows internacionais de Rock, certamente ontem teria dado mais de 50 mil pessoas. Apesar das ressalvas, agora já aguardo, ansioso, pelo próximo. Quem sabe com músicas novas, de um futuro disco novo. Por causa de figuras icônicas como Axl, Slash e Duff que o Rock continua vivo e forte. O verdadeiro Guns n’ Roses está de volta!     


Setlist  

It's So Easy 

Mr. Brownstone 

Chinese Democracy 

Welcome to the Jungle 

Double Talkin' Jive 

Sorry 

Better 

Estranged 

Live and Let Die 

Rocket Queen 

You Could be Mine 

Attitude (intro de You can't put your arms around a memory) 

This I Love 

Used to Love Her 

Civil War 

Coma 

Tema de Godfather (Speak Softly Love) 

Outta Get Me 

Wish You Were Here 

November Rain 

Yesterdays 

Knockin' on the Heaven's Door 

Nightrain

Bis

Patience 

The Seeker 

Paradise city

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

O suicídio eleitoral americano

Eleitores dos Estados Unidos escolhem o duvidoso Donald Trump como presidente.Temor deste resultado atinge a comunidade internacional 

  




Por Paulo Henrique Faria 



                Infelizmente o que todo habitante progressista da Terra temia, acabou se concretizando. O abjeto Donald Trump venceu Hillary Clinton e, se tornou assim o 45º presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Em uma eleição apertada, o candidato do partido Republicano contrariou seus pares e, quase todos os prognósticos, que davam como improvável seu triunfo. Fim do mundo?! Terceira Guerra Mundial à vista?! Não é para tanto. Mas retrocessos deverão acontecer nos próximos anos.   

            A vitória de Trump pode ser explicada de várias maneiras. Mas a hipótese mais representativa é a de que ela deu voz à boa parte da população estadunidense branca, idosa, de meia idade, com escolaridade limitada e de classe média. Essa parte expressiva do eleitorado, se viu preterida pelas conjunturas da globalização ao longo das duas últimas décadas. Até aí, nada de espantoso. Entretanto, a maior parcela destas pessoas não engoliu o fato de um presidente negro, como Barack Obama, estar oito anos à frente da nação. Quando perceberam, que Hillary poderia ser tornar a primeira mulher a dirigir os EUA, aí é que votaram sem pestanejar no empresário espalhafatoso. Sim, pois Trump reproduzia, em entrevistas e comícios, frases verdadeiramente xenófobas, racistas, sexistas e misóginas. Características bem presentes no discurso conservador. A ponto da Ku Klux Klan externar apoio explícito ao magnata. Seria o escancaramento do protofascismo na Terra do Tio Sam novamente???    

            Donald Trump não é a reencarnação dos facínoras Benito Mussolini e, tampouco, Adolf Hitler. Seria um exagero fazer tal comparação, creio eu. Ele seria melhor comparado a candidatos falaciosos que negaram a política tradicional, como os ex-presidentes brasileiros Jânio Quadros e Fernando Collor. Ambos falavam em profundas mudanças sociais e o fim da corrupção. E na prática, se viu exatamente o contrário do que fora dito. Outro que pode ser assemelhado a Trump, é o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB). Ambos se apresentam como gestores de sucesso e, além do fato de serem declaradamente de direita, apresentaram o reality show “O Aprendiz”. Diante desta coincidência, me pergunto: quem será que eles vão demitir ao longo destes próximos quatro anos?  Vamos aguardar. 
           
            Outro fator preocupante é o do fechamento de parcerias econômicas, que Trump já anunciou. Para ele, a China explora os EUA – vejam que ironia – e, os acordos com países da América do Sul, como o Brasil, precisam ser revistos. Logo os EUA que são o símbolo do imperialismo mundial; não aceitam mais essa alcunha e, pior, se postam como vítimas. Estas indecisões, vão de certa forma bagunçar a geopolítica do globo. Medidas como estas ou até mesmo o Brexit no Reino Unido, só reforçam o empobrecimento da camada menos abastada. Refletem negativamente nos parceiros destas grandes nações. Enfim, o único grande líder que aplaudiu a eleição de Trump, foi o presidente russo – e aliado de longa data – Vladimir Putin. Quando este último, vociferava contra Obama e/ou Hillary, logo me vinha à cabeça a batida frase: “O sujo falando do mal lavado”. Pelo jeito o sofrimento da população no Oriente Médio, em especial da Síria, será prolongado. Trump não tem medo do ISIS, mas sim, dos refugiados. Afinal ele odeia muçulmanos e acha que todos eles são terroristas. Ou ainda, tem ojeriza dos vizinhos mexicanos, que nas palavras de Trump são: “estupradores e traficantes”.  

            Sobre o já ultrapassado sistema eleitoral norte-americano, digo que este precisa ser revisto. Hillary Clinton terminou com mais votos absolutos. Mas como teve menos eleitores em alguns Estados, perdeu todos os delgados dos mesmos. Esse sistema representativo funcionava no século XVIII, XIX ou até mesmo no início do XX. Agora, a realidade é completamente outra. Acredito que deveriam seguir o exemplo da nossa democracia que, apesar das ressalvas, funciona bem. Leva o pleito, aquele que for mais votado. Mas enfim, não se pode reclamar da derrota pela regra do jogo. O mais lamentável foi ver um grande postulante como o democrata Bernie Sanders ficar de fora da corrida presidencial. As prévias de lá deveriam ser internas, como aqui no Brasil. Muitos apostavam que se fosse Sanders o adversário de Trump, o resultado seria outro. Quem sabe em 2020 o partido Democrata – e seus delegados – não coloquem o bom senador na jogada. Até lá, nos resta efetivar a resiliência. Combater os males feitos que estão por vir. Precisamos barrar ainda a ascensão da extrema-direita e não cometer o mesmo erro que nossos irmãos americanos. Afinal, daqui dois anos será nossa vez de determinar o líder maior. Talvez devamos escolher entre o preparado Ciro Gomes e o ignorante Jair Bolsonaro. Eu fico com a primeira opção e vocês?