segunda-feira, 16 de abril de 2018

Datafolha aponta a necessidade de União Progressista

Sem o ex-presidente Lula, a chapa Ciro Gomes e Fernando Haddad é a única alternativa para a Esquerda voltar ao poder 




Por Paulo Henrique Faria 


E saiu ontem (15/04) mais uma pesquisa presidencial do Datafolha. Quatro aspectos prioritários chamaram a atenção nos resultados: 1º Joaquim Barbosa (PSB) retornou e pontuou até bem; 2º Marina Silva (Rede) - estranhamente - cresceu um pouco nas intenções; 3º Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB) estagnaram; 4º Sem Lula na disputa, o Partido dos Trabalhadores não detém "Plano B" e, se forem sensatos, têm que apoiar Ciro Gomes (PDT), agora o único candidato do campo progressista com chances reais. 

Joaquim Barbosa é o típico candidato "não-político" e/ou outsider que parte expressiva do Mercado e a Globo tanto procuravam. É ex-ministro do STF; foi duro e midiático em condenações contra políticos do próprio PT; além de ser, digamos, a "novidade" no mundo político. Chegou até a ocupar o lugar de "queridinho dos moralistas", posto que hoje pertence ao juiz Sérgio Moro. Entretanto, não nos esqueçamos que foi parcial no julgamento do "Mensalão" e que possui um pensamento econômico Liberal, que é tudo o que o Brasil não pode nem sonhar em continuar a seguir. 

Outro fator negativo para Barbosa é o de falta de experiência no Poder Executivo, sobretudo em cargos eletivos. Soma-se a isso o fato de o PSB ter que abdicar de apoios importantes do PDT e do PT nos Estados. Será que vale o risco de bancar a qualquer custo esse devaneio da candidatura de Barbosa, em detrimento da reeleição de governadores e senadores pessebistas? Vamos ver se prospera ou não esse conceito nos próximos meses.   

Marina Silva, como já é de costume, só ganha evidência a cada quatro anos. Nunca é demais relembrar que se aliou a Aécio Neves e o PSDB em 2014. Foi a favorável ao impeachment da ex-presidenta Dilma; concorda com as reformas neoliberais propostas pelo governo Temer; É favor das ilegalidades e parcialidades da Operação Lava Jato e, por último, endossou a injusta prisão do ex-presidente Lula. Por essas e por outras, seu crescimento nos números não se justifica ao meu ver. Não faz sentido alguém que é persona non grata da militância e até do eleitorado lulopetista herdar cerca de 20% dos votos, como apontou o Datafolha. O instituto pode ter dado uma maquiada no resultado real, respaldados pela margem de erro. 

Outro fato destacável foi o engessamento dos dois principais candidatos conservadores: Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin. Isso se dá porque tanto o deputado federal, quanto o ex-governador de São Paulo perderam o principal alvo de seus ataques eleitorais: o ex-presidente Lula. Sem o discurso anti-petista, naufragam nas suas pretensões, pois não possuem sustentação programática de governo. Bolsonaro tem ainda uma rejeição - cada vez mais crescente - de 31%. Está no seu teto de 17% e, por falta de consistência partidária e de propostas, tende a cair nos subsequentes levantamentos. 

A situação do tucano pode ser considerada pior. Alckmin dispõe ao seu lado  de boa parte da grande mídia, bem como de relevantes integrantes do mundo financeiro. Isto sem mencionar uma das maiores siglas do Brasil na sua mão. Mesmo com todo esse poder, não consegue romper os 7% de votos, além de não diminuir a rejeição de quase 30 pontos percentuais. Com a possível chegada de Barbosa à corrida pelo Planalto e, uma pulverização de candidaturas de centro-direita e direita, o jogo fica ainda mais complicado. Veja os números de rejeição atualizados a seguir: 


PT e o possível "Plano C" de Ciro 


O mais relevante desta pesquisa para presidente, ao meu ver, certamente foi a consolidação da candidatura de Ciro Gomes. O ex-governador cearense já tem assegurado um eleitorado cativo que varia entre 8% e 10%, com uma rejeição estável de 23%. Além disso, na ausência evidente do ex-presidente Lula, se tornou o player mais forte do espectro de Esquerda/Centro-Esquerda. 

Para se ter uma ideia, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e o ex-governador baiano Jaques Wagner pontuam de 2% a 3% nos cenários sem o ex-presidente petista. Na simulação de segundo turno perdem feio para Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin. Já Ciro fica rigorosamente empatado com os dois direitistas. Vejam esses resultados abaixo: 
  



Ciro Gomes pode não ter a simpatia da maioria dos militantes do PT, mas, certamente é o herdeiro natural do espólio de Lula. Conta hoje com mais votos do que todos os demais candidatos de Esquerda somados (Guilherme Boulos tem 1%; Manuela D'Ávila 2%; Haddad ou Wagner 3%). Ao contrário de Joaquim Barbosa e Marina Silva, Ciro foi fiel nos últimos anos ao PT e a Lula, sobretudo no caso do Mensalão em 2005 e no "golpechment" de 2016. 

É chegada a hora do PT retribuir a solidariedade histórica que Ciro e o próprio PDT têm prestado ao longo dos últimos anos. Mas mais importante que ser grato, deve-se ser racional e pragmático. Se o PT insistir no discurso de "Eleição sem Lula é fraude" e querer lançar outro candidato de toda forma, pode contribuir decisivamente para levar o pleito à uma catastrófica disputa entre Direita x Extrema-Direita.

Ciro Gomes já se mostrou capaz de gerir a Nação. Tem lado, que é o da redução da desigualdade social e o enfrentamento aos rentistas. Se o PT/Lula o apoiar, indubitavelmente vai - logo de cara - saltar para 20% da preferência. Isso já o colocaria isolado em primeiro lugar. Com a intensificação da campanha e a participação nos debates televisivos, pode chegar a 30% na apuração do primeiro turno. Logo, iria assim como favorito para a definição no estágio decisivo. Esse diagnóstico é corroborado pela maioria dos cientistas políticos e analistas. Resta saber se o PT seguirá esse conselho, que será crucial para impedir a destruição do próprio partido e do nosso País.