segunda-feira, 11 de junho de 2018

Pesquisa Datafolha começa a definir tendências




Por Paulo Henrique Faria

No último domingo (10/06) o instituto Datafolha apresentou uma nova rodada de pesquisa presidencial. Os resultados não obtiveram parciais com grandes destaques em relação à última enquete, de dois meses atrás. Entretanto, já reforça tendências que ganham cada vez mais efetividades, como uma nova polarização de forças políticas entre Ciro Gomes x Jair Bolsonaro; PT e PSDB em situações difíceis; Marina Silva estagnada e, provavelmente, isolada nas eleições.   

          Como já é ponto pacífico entre os cientistas políticos e analistas eleitorais de que o ex-presidente Lula não poderá disputar novamente o pleito à presidência, falarei dos cenários sem o líder petista. Neles, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) lidera com 19% das intenções, seguido da ex-ministra Marina Silva (Rede) entre 15% e, em terceiro, o ex-governador Ciro Gomes (PDT) com 10%. Estes três players já estão consolidados nos dois dígitos e dificilmente serão rebaixados deste patamar. 

          No segundo pelotão aparecem respectivamente o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) com 7%; o senador Alvaro Dias (Podemos) com 4% e, ambos os “Planos Bs” do PT, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner não saem do 1%. Confiram estes resultados no quadro abaixo:   


            Outro fator de grande interesse desta Datafolha diz respeito às simulações de segundo turno. Nelas, apenas Marina Silva e Ciro Gomes se dão bem nos confrontos diretos. Ciro venceria Bolsonaro e Alckmin (Em abril ele empatava com ambos) e ganha com folgas de Haddad. O pedetista só perderia para Marina Silva, que leva vantagem sobre todos os demais. Chama atenção ainda o fato de Fernando Haddad - hoje o mais cotado para ser o candidato substituto do PT – perder em todos os cenários testados. Veja adiante: 

    
          Muitos petistas podem tentar justificar o fraco desempenho de Haddad e Wagner, alegando que ambos não são tão conhecidos do grande público. Ora, os dois já estão há muito tempo na política; um já foi prefeito da maior cidade do país e o outro governador do quarto estado brasileiro. Já foram ministros com destaques nos governos Lula e Dilma. Portanto, a militância lulopetista se engana em tentar rebater estas comprovações por este viés de desconhecimento popular. 

           Um outro indicador favorável a Ciro Gomes – principal representante remanescente da Esquerda – é o item rejeição. Ciro continua com a menor dentre os principais pré-candidatos. Estacionou nos 23% e teve poucas oscilações do ano passado para cá. Ciro voltou a ser muito conhecido pela grande exposição na mídia nos últimos 18 meses e, portanto, vê seu potencial de voto crescer a cada pesquisa. Veja os números a seguir: 


            Aliás Ciro Gomes incomoda a quase todos os seus adversários neste ano de 2018. Isso porque o PDT está na iminência de fechar alianças com PSB. Se isto acontecer, muito provavelmente a também pré-candidata Manuela D’Ávilla desistirá de concorrer para, que seu partido, o PC do B, também integre esta parcial frente de centro-esquerda. De “centro-esquerda” porque também pode aglutinar siglas do famoso “Centrão” como PP, PR, Solidariedade, Avante e PROS. Ciro, eu e todos vocês sabemos bem que esse arranjo não é o melhor dos mundos. Mas é um caminho possível para desbaratar o famigerado MDB. E certamente se Ciro obtiver êxito, saberá separar o “joio do trigo” e não deixará a “raposa cuidar do galinheiro”. 

          Vocês devem se perguntar: Mas por que Ciro incomoda com estas estratégias? A resposta é simples: Ciro Gomes está desarticulando o PT (que quase sempre teve PC do B e PSB como fieis apoiadores), além de tirar parte expressiva dos partidos de centro-direita das mãos dos tucanos. Jair Bolsonaro também se mostra pouco à vontade com este rearranjo, uma vez que sonhava com o apoio do PR e a vice do senador capixaba Magno Malta. Esta jogada já foi descartada pelas partes envolvidas, inclusive.    


PT e seu “poste” prontos para a derrota 


O que reforça esta tese de que o “Poste do PT” será malsucedido - ao meu ver - nas eleições vindouras, é justamente o resultado de que dispara o número de pessoas que não teriam candidato, sem Lula na disputa. Os índices passam de 21% para 34% de indecisos, brancos, nulos ou abstenções. Um argumento que complementa esta máxima foi quando o Datafolha apresentou cinco nomes identificados com a esquerda como alternativa a Lula e, adivinhem, um terço indicou Ciro Gomes como a melhor escolha. Veja abaixo esses números: 


          O Partido dos Trabalhadores e seus dirigentes insistem – de forma muito equivocada – em reafirmar que vão levar a candidatura de Lula até as últimas consequências. O ex-presidente está preso há dois meses e não tem sequer uma única perspectiva de soltura. Ele não poderá gravar vídeos, não irá evidentemente a palanques e deverá ter seu registro cassado (por meio da Lei da Ficha Limpa) pelo TSE até, no máximo, começo de setembro. Ou seja, em plena campanha oficial.   

          Os relatos de bastidores dizem que colocarão Fernando Haddad como vice, para, quando referendado este impedimento de Lula, ocorrer um “dedaço” e o ex-prefeito assumir o lugar vago. Gente, o eleitor não tem dono. O voto de cabresto já está praticamente extinto no Brasil. Esses 30% de capital eleitoral que Lula ainda possui “pertencem”, quase que exclusivamente, a ele. Logo, o grau de transferência de votos pode ser insuficiente para colocar Haddad no segundo turno e, num cenário tenebroso, tirar Ciro Gomes – de novo, o nome mais forte do campo progressista – desta disputa decisiva. A Esquerda desunida é tudo o que a Direita e a Extrema-Direita querem.    


PSDB em desespero   

          Geraldo Alckmin não consegue romper os meros 7%. Mesmo com quase todo o PIG o ajudando; “Mercado” o assumindo “como o candidato do centro”; e, claro, todo o dinheiro e estrutura partidária tucana ao seu dispor. Além disso, parece que só virá com os inexpressivos suportes do PPS e PTB. Prováveis aliados como PSC, PSD e PRB mantêm suas eventuais pré-candidaturas.   

O ex-ministro da fazenda Henrique Meirelles (MDB) quer morrer abraçado com Michel Temer, detentor do governo mais impopular da história brasileira. Tem ainda o agravante de Rodrigo Maia e o DEM rechaçarem a ideia de vir com o PSDB novamente. Os Democratas cogitam até apoiar Ciro, mas não querem se ver nas fotos com Alckmin e correligionários do paulista.   

Marina Silva cada vez mais irrelevante 

           Marina aparece ultimamente de 13 a 15 pontos no Datafolha desde 2017. Todavia, tem pouca exposição da mídia. Sua boa colocação se dá pelo recall político que detém e não pelos seus posicionamentos. A ex-ministra não está envolvida em casos de corrupção e/ou denúncias; isto é fato. Mas deixa cada vez mais difusa suas ideias sobre como pretende encarar os inúmeros e grandiosos problemas que a nação enfrenta. Ela é definida por muitos como a candidata “em cima do Muro”. Soma-se a isso a frágil condição da Rede Sustentabilidade no Congresso Nacional, bem como a patente falta de capilaridade dos mesmos. As grandes siglas não querem apoiá-la e, assim, ela se vê cada vez mais solitária. Se ficar em terceiro lugar, pela terceira vez consecutiva, já poderá pedir música no programa Fantástico!   

 Bolsonaro tem pavor de sabatinas e debates 

Jair Bolsonaro fica abertamente injuriado quando é escrutinado em sabatinas organizadas pelos grandes conglomerados da imprensa nacional. Se recusou a ir a evento organizado pelo Uol/Folha de São Paulo/SBT. Detalhe: todos os principais pré-candidatos bem posicionados e com condições de disputa foram até lá. O ex-capitão igualmente não confirmou ida ao tradicional Roda Viva da TV Cultura que realiza uma rodada semelhante de coletivas. Ele foge de entrevistas elaboradas e debates com concorrentes, como o diabo foge da cruz.   

Já admite que pretende repetir Fernando Collor em 1989, quando o então candidato que iria “caçar marajás” só participou do último debate na Globo. Bolsonaro segue este enredo porque não quer deixar transparecer seu completo despreparo para lidar com os temas básicos do poder executivo. Escancarar em rede nacional a sua incapacidade cognitiva e o ódio que exerce para com as minorias derrubariam por Terra suas pretensões de chegar ao posto de mandatário-mor.

Ciro Gomes: O anti-Temer e anti-Bolsonaro 

       Ciro Gomes tem ganhado cada vez mais notoriedade nos “jornalões” e internet. Já emplacava manchetes – de forma muito esperta – como um crítico contumaz do governo golpista de Michel Temer. Agora também traçou a meta de ser o oposto ao extremista conservador Bolsonaro. Ciro é contra a reforma da previdência apresentada, já disse que revogará a draconiana reforma trabalhista e que fará de tudo para reverter a criminosa PEC 95, que congela os investimentos públicos em saúde e educação por absurdos 20 anos.   

Gomes já chama Bolsonaro em público de fascista e que, segundo palavras do próprio, seria um “câncer que precisa ser extirpado da democracia”. Ciro é de longe o candidato mais preparado intelectualmente dos que postulam o Palácio do Planalto nesta ocasião. Dispõe de muita experiência administrativa e eleitoral. E se mostra um grande jogador de xadrez a cada mês.   

         Ele sabe que ao se colocar como o candidato da oposição abre seu leque de simpatia com a maioria dos eleitores brasileiros, que são quase unânimes em chamar Temer de corrupto e incompetente. Para além disso, Ciro ocupa naturalmente o vácuo deixado por Lula e aparece como o nome antagônico a Jair Bolsonaro. Ainda tenho dúvidas de que o parlamentar do PSL irá para segundo turno, mas isso é um problema do PSDB e não nosso. Em suma, após a Copa do Mundo as definições neste jogo da política tupiniquim pegarão fogo.