Eles têm em comum o
sangue e também o gosto musical
Por Paulo Henrique Faria
Se por aqui muitos enxergam irmãos
músicos como potenciais duplas sertanejas, o mesmo não se pode dizer – ainda bem!
– dos gringos. E olha que no Brasil existem aqueles que foram na contramão do
status quo. São vários os exemplos de filhos dos mesmos pais que trilharam um
caminho de sucesso na cena roqueira. Essa união nos rendeu grandes bandas como:
AC/DC, Scorpions, Van Halen, Heart, Oasis e Sepultura.
Os primeiros da lista, não poderiam
vir de um lugar diferente que a Escócia. Sim, foi lá que nasceram Malcolm e
Angus Young. Eles se mudaram ainda crianças para a longínqua Austrália e, lá
fundaram um dos maiores nomes do rock de todos os tempos, o icônico AC/DC. O
maior êxito veio com o marcante “Back in Black” de 1980, que elevou o estrelato
dos caras ao nível global. Infelizmente no ano passado, Malcolm – o mais velho
deles – foi diagnosticado com demência e teve que deixar seu posto. Em seu
lugar entrou o caçula Stevie Young.
O segundo exemplo vem da Alemanha.
Lá, os irmãos Rudolf e Michael Schenker fundaram e consagraram o expoente do
Hard Rock Scorpions. A união dos manos durou pouco mais de três anos e, rendeu
o disco de estreia “Lonesome Crow” de 1972. Um ano depois, Michael deixou a
banda para integrar a inglesa UFO. Em seu lugar foi chamado o mestre Uli Jon
Roth e, assim decolaram rumo ao estrelato.
Mas talvez a parceria mais bem-sucedida
e conhecida do rock seja dos irmãos Van Halen. Migrados da Holanda para os
Estados Unidos (EUA), adolescentes, eles conheceram o irreverente vocalista Dave
Lee Roth. Este, curtiu o sobrenome pomposo dos caras e teve a ideia de batizar
o grupo com ele. Com mais de 40 anos de carreira, tanto Eddie, quanto Alex se
tornaram referência em seus respectivos instrumentos. O curioso é que o início
da vida musical de ambos foi diferente das suas especialidades. Eddie começou
no piano e depois se arriscou na bateria. Só mais tarde, ao perceber que seu irmão
mais velho – que no começo pegou aulas de violão flamenco – era superior com as
baquetas, se enveredou para o violão e, logo sem seguida para a guitarra. Ainda
bem que eles decidiram trocar de funções. Os deuses do rock agradecem!
No rock internacional destaco ainda
as irmãs Ann e Nancy Wilson do ótimo Heart; os brigões Liam e Noel Gallagher do
Oasis; os engraçados Justin e Dan Hawkins do The Darkness; além dos pesados
Vinnie Paul e Dimebag “Darrel” Abbott, do Pantera. Todos com grandes
contribuições para o cenário rocker dos anos 1970, 1980, 1990 e 2000.
Irmãos roqueiros brasileiros
O
Brasil não fica atrás quando de se trata de parcerias entre irmãos no rock. O
exemplo mais antigo é de Sergio Dias e Arnaldo Baptista. Eles formaram em 1968
Os Mutantes, que se tornou um símbolo do movimento tropicalista e o precursor
do rock psicodélico brasileiro. Mais tarde, na onda da rebeldia ointentista, surgiu
em Brasília Flávio e Fê Lemos. Com forte influência Punk fizeram com Renato
Russo o Aborto Elétrico. Em 1982 fundaram o famoso Capital Inicial.
A irmandade, porém, é mais presente
e destacável no Heavy Metal Nacional. Encabeçando esta premissa temos os
fundadores do Sepultura, Max e Igor Cavalera. Formado em Belo Horizonte em
1984, os expoentes do Metal brazuca fizeram muito pela cena. Com mais de 20
milhões de cópias vendidas em todo o planeta, o grupo teve reconhecimento nos EUA
e Europa nos anos 90. Uma pena que no final de 1996 eles se desentenderam e
culminou na saída de Max. Igor ficou sem falar com seu irmão mais velho por dez
anos. Até que Igor, recém egresso do Sepultura, fez as pazes e se apresentou
com a banda de Max, o Soufly. Logo depois criaram o projeto “Cavalera
Conspiracy”, que já lançou três CDs nos últimos oito anos.
Na cena metálica paulistana posso
citar Yves e Pit Passarell, que compuseram respectivamente guitarra e baixo do inesquecível
Viper. Na mesma época, surgia também o excelente Dr. Sin. Integrado pelos
virtuosos irmãos Ivan e Andria Busic, os brothers encerraram as atividades do “Doctor”
este ano, mas continuam tocando juntos em demasiados projetos. Dessa frutífera cena,
temos ainda Luís e Hugo Mariutti. Eles tocaram com Andre Matos no Shaman e na
carreira solo do cantor. Descendo um pouco, mais precisamente ao sul do país,
encontramos ainda Alex, Max e Moyses Kolesne do Krisiun. Eles fazem relativo sucesso
na Europa com seu brutal Death Metal de qualidade. Tocam juntos há mais de 25
anos.
Irmãos brigam, se amam, se odeiam e
se reconciliam. Mas também fazem músicas da melhor qualidade. O sentimento
fraternal é muito digno em todos os âmbitos. Mesmo com todas as dificuldades de
temperamento ou mesmo de oportunidades, eles se juntam e formam verdadeiros
esquadrões de excelência sonora. Quem me dera ter um irmão mais novo pra tocar
bateria nas minhas bandas... acabaria com meus problemas. Um salve para os
irmãos do rock!